quinta-feira, 19 de novembro de 2009

COMO PROCURAR AIKIDO E NÃO O ENCONTRAR


"O essencial é invisível aos olhos", diz Saint-Exupéry. As poucas
pessoas que procuram pela arte do AIKIDO correm o risco de
procurar errado, por não saber procurar. Algumas procuram,
pensam que encontraram e se dão por satisfeitas com qualquer
coisa. Outras procuram e não o encontram. Outras o encontram
mas não conseguem vê-lo. Outras passarão a vida procurando
nos lugares errados. Um dojo de AIKIDO não é revestido de néon
por fora, nem mobiliado com máquinas movidas a chips e com
tecnologia de última geração. As pessoas estão mais afeitas a
caminhar mais por "infinitas highways", rodovias largas,
iluminadas e cobertas por pétalas de rosas, do que por caminhos
estreitos, íngremes e pedregosos. O padrão dos DOJOS de
AIKIDO é, no geral, o mesmo: os essenciais tatames, os retratos
dos mestres e senseis, algumas armas de madeira para
demonstração de movimentos e muita, mas muita virtude. Então
as poucas pessoas que buscam um DOJO de AIKIDO, ao
encontrarem o endereço e, não se vendo ofuscadas pelo néon,
pelo lado de fora, nem pela sofisticada maquinaria que guarnece
as megas academias, viram as costas, decepcionadas. O AIKIDO é
uma arte essencialmente "anti-marketing" pois quando o
responsável pelo AIKIDO se transforma em marqueteiro, incorre
naquilo que se poderia chamar de "desvio de finalidade", ou
ainda "desvio de função". O marqueteiro do AIKIDO se
transforma em um líder que se impõe pelo culto à imagem, como
um MaoTséTung qualquer, passando o AIKIDO a ser considerado
um acessório, uma bijuteria, o veículo da fama pessoal,
momentânea. Como eu disse acima, o que reveste o interior de
um verdadeiro DOJO de AIKIDO são as Virtudes. A primeira
Virtude que deve ser adotada por todos, especialmente pelo
Sensei, responsável pelos treinos, é a Humildade. A Humildade é
a grande Virtude dos Sábios, dos heróis e de todos os grandes
homens. Os pequenos, os homens insignificantes, os homens
ridículos têm que compensar a carência dessa virtude
demonstrando sempre um complexo de superioridade. Têm que
se impor por qualquer outra maneira artificial, menos pelo
AIKIDO. Passam a atrair outros seres pequenos e iguais a eles,
como uma lâmpada atrai moscas e mariposas. Pois a luz do sol
cega. Mas cega apenas aqueles que ousam encarar o sol com
arrogância. Não aqueles que aceitam o sol como luz do caminho,
luz da vida, fonte de vida, e entendem que devem olhar para ele
com respeito, com reverência e caminhar à sua sombra sem que,
no entanto, percam nada de seus benefícios. Que benefício traz
uma lâmpada para uma mosca ou uma mariposa? Uma nunca
deixará de girar insensatamente em volta da outra e ambas
jamais sairão de sua miserável condição de lâmpada e de mosca.
A arte do AIKIDO é cheia de segredos. O maior de todos, o mais
difícil de ser alcançado, o mais importante de todos os segredos,
é exatamente a essência do AIKIDO: a Simplicidade. Deixar de
lado a complexidade do raciocínio de adultos infectados pela vida
contemporânea, a fórmula da competitividade, os confrontos, os
conflitos, os preconceitos, a gana de vencer a qualquer custo, a
vontade de sobrepujar e, ao contrário, passar a praticar os
movimentos do AIKIDO, com a mente maravilhada da criança que
observa os fenômenos da natureza, do universo que se oferece à
sua frente, esse é o grande segredo do AIKIDO. Mover-se com
simplicidade, com naturalidade, acompanhando os sons do
Universo. Este é o Segredo. Quem não perceber a música
executada pelo Universo não pode treinar AIKIDO. Aquele que
treina qualquer coisa que ouse chamar de "aikido", pensando em
si próprio, em sua imagem, adotando postura de instrutor ou
praticante de uma "luta um pouco melhor ou mais eficaz que as
outras", não passa de um criminoso, um estelionatário, um
ilusionista, um esnobe, utilizando-se da superficialidade de sua
figura, a fim de atrair honras pessoais, o que é profundamente
condenável. É como pregar alguma religião sem mencionar a
existência de alguma divindade subjacente a ela, o que
redundaria em um juízo de valor do tipo " já que estou pregando
uma religião, observem que o tal deus sou eu". A título de
ilustração, gosto de lembrar a cena de um dos filmes de Indiana
Jones que, depois de alguns arrogantes escolherem cálices
valiosíssimos, como se fossem o Santo Graal, a taça que teria sido
usada por Jesus Cristo na Santa Ceia, e provocarem a destruição
da tal caverna do filme, o mocinho raciocinou que, se Jesus era
um carpinteiro, natural que a taça deveria ser aquela de madeira.
Às vezes se apresenta impossível explicar fatos que por si só
representem a simplicidade e o natural. E está aí algo que
mentes de moscas hipnotizadas por brilhos de lâmpadas jamais
compreenderão. As estradas largas e asfaltadas com pétalas de
rosas conduzem a lugares que o homem que as construiu deseja
que todos acabem visitando. Mas só os caminhos geralmente
estreitos, tortuosos, íngremes e pedregosos, construídos pela
natureza, podem conduzir o caminhante virtuoso a qualquer
outro lugar do Universo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário