segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Meu pai, médico, morreu como imaginou: sem perceber a morte e trabalhando. Primeiro, porque me parecia que ele demonstrava ter algum medo de morrer. Ele gostava da vida. Depois, porque morreu durante as consultas que dava, no posto de saúde em que trabalhava. Nem percebeu. Perdeu os sentidos e pronto. Ele queria morrer trabalhando e conseguiu. Um exemplo como poucos, foi o que deixou de herança. Gostava de procurar anúncios no jornal pedindo médicos plantonistas. Adorava fazer plantões no litoral, ocasiões em que revezava com o merecido descanso na praia. Dezesseis meses depois de sua morte ainda telefonam para o meu celular, que era o contato dele com os interessados em seus plantões (geralmente órgãos públicos), oferecendo plantões a ele. Tenho que agradecer, em nome do meu pai, aos que telefonam, e informar que ele já morreu faz tempo (03 de maio de 2007). Eles pedem desculpas, dizem que os arquivos estão desatualizados. Meu pai deixou um nome, um trabalho, um exemplo, coisas que passaram para além do tempo de vida dele. Obrigado, pai. Em segredo, confesso e admito que devo até um sapato novo, um objeto qualquer da minha casa, a comida que compro para mim, mesmo pensando que seja com o "meu dinheiro", minha cultura, meus estudos, minha vida, tudo, aos esforços dos meus pais. Tudo o que sou e o que tenho veio deles. Não posso deixar de incluir também: Mãe, obrigado à senhora também. E me desculpem meus maus momentos. Frutos da juventude, da insensatez, da irresponsabilidade, da infantilidade.

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