segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A dita “cultura” milenar hindu serviu para alguma coisa aqui no ocidente: importar a cultura dos “intocáveis”, ou dalits, como se diz por lá. Os “intocáveis” nem chegam a ser uma classe social, dentro do sistema de castas que lá vigora. Eles são nojentos demais para integrar a sociedade, mesmo porque sequer são considerados humanos. Conta-se que um deles descobriu o que era um abraço quando tinha vinte e um anos de idade. É como ser leproso, talvez o equivalente aos tão falados excluídos de nossa sociedade ocidental discriminatória. Enquanto lá eles são barrados inclusive e especialmente em seus templos, aqui são barrados nos mais diversos “templos” sócio-culturais frequentados pelas outras castas – incluindo a dos párias. E aqui no ocidente, nossos templos são frequentados por todos, de todas as castas, desde os párias até os brâmanes. Menos os intocáveis. Os brâmanes costumam frequentar os locais frequentados pelos párias e vice-versa. Mas os intocáveis jamais. Não devem entrar nem em locais frequentados por párias. Aqui, como profissionais, são impedidos de ter clientes: porque não devem ter dinheiro, nem para comprar, nem para vender. Têm que viver de restos e sobras que juntarem. Como professores, impedidos de ministrar aulas e ter alunos. Como seres viventes, não-humanos, evidentemente, impedidos de ter amigos. E assim por diante. Impedidos de negociar, de comprar, como um outro que foi castigado por ousar comprar um imóvel. Os intocáveis poluem a água, o ar, a atmosfera, o ambiente que frequentam, por isso não podem frequentar os mesmos ambientes que os demais. Ao manifestarem sua vontade, são impedidos e castigados. Todos ficam impedidos de procurar, ajudar, ou ir até um intocável. O intocável nasce assim e morre assim: intocável. Sua voz não é ouvida, nem sequer pode nem deve ser ouvida. O fato dele ter nascido e existir já é por si só o seu castigo. Sua existência toda tem que significar sua punição, seu simples existir é o seu flagelo permanente. O intocável é um saco de lixo. Para ele não há possibilidade de ascenção social, nem de melhoria como indivíduo. A morte da dignidade é um lema. Todos os caminhos que conduzem à morada de um intocável são fechados. Os outros não podem nem devem ir até eles assim como eles não podem nem devem ir até os outros. Pois posso dizer que tenho o privilégio de ser um intocável. É uma honra: não faço nada do que as outras camadas sociais fazem: não mato, não roubo, não testemunho em falso, não trafico, não estupro, não compro, não vendo. Nada. Não nesta sociedade podre, que se sustenta tal qual o sepulcro caiado dos Evangelhos. Não nesta sociedade que tem como princípios a blasfêmia e a heresia e como verdade absoluta o relativismo. Não nesta sociedade em que mais que matar crianças e adultos, resseca e mata a alma, os sonhos, seu futuro, seus objetivos, suas esperanças. Não nesta sociedade em que pactos com o demônio são corriqueiros, vender a alma ao demônio é sinônimo de poder e glória, perder a alma dos outros é uma missão, estuprar e matar crianças é banal. Nem é preciso que eu entre na casuística e comece a elencar os podres desta sociedade que mesmo assim criou os seus próprios intocáveis como eu. A mídia diuturna se encarrega disso com a maior perfeição. Eis um pouco do que se tem falado dos intocáveis: “o fraco não serve para nada... o justo nos incomoda... sua existência é uma censura às nossas idéias... basta sua visão para nos importunar... sua vida não se parece com as outras, seus caminhos são muito diferentes... vamos testá-lo com ultrages e torturas.... condená-lo a uma morte infame”... Apenas de uma coisa todos esses "brâmanes"de hoje se esqueceram de levar em consideração: eles não estão lidando com nenhum iletrado, nenhum pagão, nenhum politeísta, nenhum nihilista..... por outro lado, finalmente.... também está dito “bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.... os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados... os que são perseguidos por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus.... alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os prefetas que vieram antes de vós... assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus”. Na condição de intocável, que sabe disso tudo e sente assim.... preciso querer mais que isso?

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