domingo, 24 de outubro de 2010

BRECHT E A NOSSA VEZ DE PRECISARMOS DE HERÓIS


BRECHT E A NOSSA VEZ DE TERMOS HERÓIS.

"Pobre do país que precisa de heróis", disse ele. No começo eu não entendia. Sempre vi herói como uma coisa bacana, tipo Ivanhoé, o Príncipe Valente, Cartouche, Ricardo Coração de Leão, Carlos Magno... então a frase de Brecht não me fazia sentido pois, como a existência de um herói haveria de desmerecer o conceito de uma nação? Era um paradoxo. Hoje entendo perfeitamente. Aos poucos ia me inteirando, sempre por causa da "busca por conhecimento" de assuntos do tipo em que circunstâncias os Estados Unidos da América do Norte precisaram criar e, principalmente, embriagar o público com figuras do tipo "O Superhomem", "Capitão América" e, mais para cá, com os chucknorris, rambos, exterminadores do futuro e tantos outros "vencedores" de suas guerras perdidas na realidade, mas vencidas heroicamente nas telas do mundo inteiro. Como sempre, atrasados com o bonde da História (geralmente por problemas alfandegários, é a burocracia da importação), estamos entrando agora nessa fase. O Capitão Nascimento era o que nos faltava. Mas o coitado chegou em má hora. Seu maior inimigo são, irônica e infelizmente, os Direitos Humanos. Tais direitos privilegiam um sistema policial enquanto instituição teórica, montada em saletas confortáveis, com ar condicionado e telões de computadores em que podem circunscrever as áreas de “alta incidência de crimes” (os famosos "hot spots", pra variar, mais uma expressão de origem importada) em que a bandidagem desenfreada folga, faz festa, sapateia em cima do cidadão desorientado e escarnece do que nos resta de instituições, da mais simplória à mais sagrada. Os bandidos têm liberdade para ter seus anti-heróis, gente famosa, instalada em celas especiais também, protegida pelos super poderes dos direitos humanos. O Capitão Nascimento é "O herói", porque não morre no cumprimento do dever. E ele é politicamente incorreto, o que é pior. Mas o policial anônimo, o soldado, o pai de família, o homem comum que anda pelas calçadas da realidade diária e rala pelos becos de nosso submundo, cai atônito, aturdido, feito peão em tabuleiro de xadrez. E, se houver protestos, estaremos diante de uma queda no estilo dominó. O show deve continuar, portanto. De tanto ter que ver filmes de super-heróis e, na condição de cidadão, protagonizar, involuntariamente, tais super produções de mídia e de massa, cheguei à conclusão de que a fantasia é o ópio do povo. Pobres de nós.

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