quarta-feira, 30 de março de 2011

A EDUCAÇÃO DO POVO - Afrânio Peixoto

EDUCAÇÃO DO POVO

Afrânio Peixoto


O que nos cumpre é preparar, hoje, o Brasil de amanhã.
Educar o brasileiro de agora para lhe dar uma consciência de si e, portanto, dar a todos uma consciência nacional.
Mostrar-lhe suas origens de espírito e civilização para que as preze e as saiba honrar; as suas origens mesológicas e etnográficas para que as saiba conhecer a aperfeiçoar.

Contar-lhe a sua história, para que do passado algum bem possa colher e aplicar, com proveito, no presente e, por prevenção, no futuro.

Moderar-lhes a ênfase, desiludir-lhes as utopias, corrigir-lhes o desdém das realidades práticas, para que não sejam discursadores vãos, poetas e escrevinhadores visionários, parasitas das classes improdutivas que vivem do orçamento e tornam difícil a vida dos que trabalham.

Adquirir a soma de conhecimento próprio e conhecimento dos outros que nos permita preparar o nosso destino e não vivermos ao Deus dará a cada dia o seu cuidado como acontece até agora, à nossa incapacidade de prever: o Brasil é por isso uma imensa carta, sem endereço: chegará assim, se chegar, aonde não quereria.

As democracias não se compreendem sem a educação do povo, que para exercer o seu direito, precisa conhecer-se e aos seus deveres.

Só assim ele saberá escolher um governo idôneo, que lhe prepare o destino adequado e sobre o qual possa sempre exercer uma influência salutar.

Os povos ignorantes, e por isso imprevidentes, abdicam de si nos outros e votam-se à servidão e ao desaparecimento.
Um Brasil próspero e eterno, que honre a cultura greco-latina, as tradições lusitanas, a sua própria história, das quais deve ter legítimo orgulho, que propague e cultive a língua portuguesa, da qual é depositário, e já hoje o maior responsável, dever ser, para começar, um povo instruído e educado.

Só há um caminho para a conquista da natureza, dos homens, de si mesmo: saber. Não há outro meio de conseguir: querer.



Em:
Noções de História da Educação

Publicada em 1933 pela Companhia Editora Nacional


Afrânio Peixoto nasceu em Lençóis, na Bahia, em 17 de
dezembro de 1876 (médico legista, deputado federal, professor, crítico literário, romancista, poeta,
membro do IHGB e ocupante da cadeira nº9, da Academia Brasileira de Letras (cadeira de Castro Alves) entre outras atividades culturais e políticas que demarcaram a sua trajetória como
homem público. Ligado ao grupo do MEN - Movimento pela Escola Nova). Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 12 de janeiro de 1947. Formou-se na Faculdade de Medicina, em 1897, em Salvador. Em 1901 foi nomeado professor substituto de Medicina Pública, na Faculdade de Direito da Bahia. No mesmo ano mudou-se para o Rio de Janeiro e em 1902 tornou-se Inspetor Sanitário de Saúde Pública do Distrito Federal. Em 1904 assumiu a
direção interina do Hospício Nacional de Alienados. Retornando ao Brasil, após uma longa viagem
por muitos países da Europa, foi classificado em primeiro lugar, mediante concurso, como professor
das cadeiras de Higiene e Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi
empossado também na cátedra de Medicina Pública da Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de
Janeiro.

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